sábado, 6 de junho de 2009

BULLYING ESCOLAR

O termo bullying significa o desejo de maltratar uma pessoa intencionalmente e repetidas vezes sem motivo a ponto de intimidá-la causando-lhe dor e sofrimento. Essas atitudes na maioria das vezes são realizadas por um ou mais estudantes, em disputa de poderes, onde o mais forte humilha o mais fraco.

Bully pode ser traduzido como valentão, tirano, brigão. Como verbo, bully, significa tiranizar, amedrontar, brutalizar, oprimir, e o substantivo bullying descreve o conjunto de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um individuo (bully) ou grupo de indivíduos (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender (FANTE,2008. p. 34 ).

Estes atos de violência são caracterizados por apelidos, ofensas, discriminação, aterrorização, exclusão, chutes, ferimentos, e até mesmo, o roubo de pertences, tudo para intimidar a vítima.

Normalmente estas vítimas são aquelas pessoas consideradas diferentes do grupo, onde, na maioria das vezes ela sente-se isolada e excluída, podendo ter a moral rebaixada.

Segundo Fante (2008) “O bullying é uma forma de violência que resulta em sérios prejuízos, não apenas no âmbito escolar, mas a toda sociedade, pelas atitudes de seus membros.”

A identificação dessa violência ocorre quando os ataques são realizados contra a mesma pessoa por duas ou mais vezes. Nestes casos, a vítima passa a ter medo de receber um novo ataque, adquirindo sentimento de ansiedade, angústia, raiva e terror, atrapalhando-a inclusive em sala de aula, onde ela terá medo de fazer alguma pergunta ao professor e ser zoada, acabando por preferir se calar e isolar-se para que ninguém se lembre de constrange-la, diminuindo assim, seu sofrimento.

Os locais onde mais ocorrem os ataques de bullying são pracinhas, banheiros, pátios da escola, corredores, salas de aula, biblioteca e quadra de esportes.

Compete aos professores estar atentos para tais ações, observando o comportamento dos alunos nestes ambientes.

Quando os professores são treinados para a identificação, o diagnóstico e o encaminhamento do problema, tornando-se aptos a desenvolver estratégias psicopedagógicas de prevenção, fundamentados nos princípios de educação para paz, são capazes de intervir de forma adequada em tais circunstâncias (FANTE, 2008, p. 54).

Os alunos intimidados são na maioria das vezes, aqueles mais retraídos, tímidos, de classes menos favorecidas, frágeis ou com alguma característica diferente dos outros como: usa óculos, ter o nariz grande, ser gordo etc...

Eles por sua vez acabam demonstrando insegurança, sensibilidade, submissão, baixa autoestima, irritação e depressão.

As formas de maus tratos são: físico (bater, chutar, beliscar); verbal (apelidar, xingar, zoar); moral) difamar, caluniar, discriminar); sexual( abusar, assediar, insinuar); psicológico( intimidar, ameaçar, perseguir);material(furtar, roubar, destroçar pertences) ;e virtual( zoar,discriminar, difamar, através da internet e do celular) (FANTE, 2008, p. 62).

Fante constatou que na maioria de seus atendimentos ás vitimas de bullying sofrem um grande estresse acarretando diversos sintomas psicossomáticos no horário próximo de ir para escola, como: dores de cabeça, tonturas, náusea, ânsia de vômito, dor no estômago, diarréia, enurese, sudorese, febre, taquicardia, tensão, dores musculares, excesso de sono ou insônia, pesadelos, perda ou aumento do apetite, dores generalizadas, entre outras...

Estes sintomas ocorrem principalmente com as crianças menores, que no desejo inconsciente preferem ficar doentes a sofrer humilhações na escola. Muitas vezes estas situações passam despercebida pelos pais e professores, que acham que essas ações são simplesmente uma maneira de chamar atenção, e com isso, acabam acarretando diversos problemas, inclusive traumas.

[...] dependendo da estrutura psicológica de cada indivíduo, o bullying pode mobilizar ansiedade, tensão, medo, raiva, irritabilidade, dificuldade de concentração, déficit de atenção, angústia, tristeza, desgosto, apatia, cansaço, insegurança, retraiamento, sensação de impotência e rejeição, sentimentos de abandono e de inferioridade, mágoa, oscilações do humor, desejo de vingança e pensamentos suicidas, depressão, fobias e hiperatividade, entre outros. [...] ( FANTE,2008, p. 84 ).

Todos estes sentimentos provocam prejuízos até mesmo no desenvolvimento da inteligência e na capacidade de aprendizagem.

Estas dificuldades são oriundas da memória, onde o individuo, ao longo de sua vida, armazena de forma inconsciente, todas as experiências e informações recebidas.

Todas as emoções mais fortes, tanto positivas ou negativas, são arquivadas de um modo especial, para sem reutilizadas em novas situações.

Através desse processo a pessoa constrói sua autoestima, relacionamento interpessoal, resolução de conflitos e comportamento.

Conforme os registros acumulados, bons ou ruins, as pessoas têm ou não capacidade de sentir segurança em si mesmo.

No caso daqueles que sofreram bullying, a formação psicológica caracteriza-se por auto estima rebaixada e dificuldade de relacionamento, isto principalmente entre aqueles que foram expostos a intimidação e constrangimento.

Seus pensamentos e emoções serão marcados por insegurança, ansiedade, medo e vergonha, prejudicando assim, seu raciocínio e aprendizagem. Esta pessoa poderia até desenvolver comprometimento no desenvolvimento da inteligência, criatividade e liderança, assim como no envolvimento afetivo, familiar, social e no trabalho.

Fante descreve que: “entre os alunos por nós atentidos, identificamos como mais comuns o déficit de concentração e de aprendizagem, a dispersão, o desinteresse pelos estudos e pela escola, o absentismo, a queda do rendimento escolar e a evasão”.

Estes alunos, geralmente se tornam introvertidos, tristes e até mesmo irritados. Eles ficam em tensão e medo de serem atacados, perdendo a concentração, com pensamentos em como defender-se desses ataques. Quando eles têm dúvidas, tem medo de perguntar, para não serem criticados e assim, não conseguem acompanhar o rendimento da turma.

Com o baixo rendimento vão inventando desculpas para não irem a aula, alguns até desenvolvem fobia escolar e optam pela evasão.

Aquelas crianças consideradas ( bully), praticantes do bullying, muitas vezes, já sofreram algum tipo de mau trato seja por um adulto ou colega, e , que de alguma forma ficou fragilizado.

Os bullying de hoje podem ser os bully de amanhã, tudo acontece num ciclo de abusos e maus tratos, onde através de seus ataques, eles acabam gerando uma defesa, para que ele não se torne uma vítima, e sim o outro.

[...] reproduzir a vitimização é um esquema de proteção que adotam para lidar coma dor do trauma, a dor emocional. Portanto, o bully antes de tudo é um individuo que sofre que tem medo e muita raiva represada em seu coração [...] (FANTE, 2008, p. 101).

Sabe-se até então, que existem os bully e aqueles que sofrem bullying, além de quanto isto interfere na aprendizagem e sociação desses alunos. Para prevenir que isso aconteça é preciso que a escola capacite seus profissionais para observar, identificar , intervir e encaminhar adequadamente essas crianças, além de levar esse tema em discussão na comunidade e contar com a ajuda de psicólogos e assistentes sociais. È importante a participação de conselhos tutelares, delegacias da criança e do adolescente, entre outros.

Fante coloca que para detectar os índices de bullying, “é necessário que a escola faça uma pesquisa com os alunos, a fim de ouvi-los para saber quais são as suas experiências com o bullying e os sentimentos despertados por ele.

Nestas pesquisas os alunos são estimulados a falar sobre os seus relacionamentos com os colegas, através de dinâmicas de grupo, que facilitam a descoberta do fenômeno.

Através do incentivo, da solidariedade, tolerância e respeito ás diferenças, procurando integrar as vitimas e os agressores, a fim de que não ocorra mais o bullying, promovendo a inclusão de todos.

Além das pesquisas, os professores devem estar sempre atentos aos seus alunos, se algum está muito isolado, se nos trabalhos em grupo e jogos é sempre o último a ser escolhido. Também se observa se alguém é muito apelidado por seu aspecto físico, psicológico e cognitivo, e se em decorrência disso, torna-se triste, deprimido, aflito e agressivo.

Muitos desses alunos costumam apresentar queda nos estudos, e o professor precisa ver se ele está se desinteressando e faltando aula, com desculpas não convincentes, alguns deles até podem estar machucados, com materiais danificados e que não querem falar sobre o assunto.

Ao presenciar essa cena de bullying, o professor deve intervir imediatamente, para que cessem os ataques, porém ele deve ter cuidado, para não expor o praticante e nem superproteger a vítima.

O professor deve agir de forma discreta, respeitando a personalidade, limitações e condições do aluno, conforme sua idade e formação. Caso os maus tratos sejam graves, ele deve ser encaminhado à direção.

Sugerimos que o tema seja introduzido na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, por meio de histórias ou fábulas que trabalhem o preconceito ou qualquer forma de exclusão e discriminação ( FANTE, 2008, p.117)

Inicialmente os casos devem ser resolvidos na escola por meio de ações pedagógicas, orientando o aluno agressor e aplicando a ele uma punição, prevista no regimento escolar, além de alertar os responsáveis, caso seja algo grave, deve-se também encaminhá-lo ao conselho tutelar.

Os responsáveis pela vítima podem fazer um boletim de ocorrência caso haja lesão corporal, calúnia, injúria ou difamação. A escola não pode se omitir, pois poderá ser sujeita a pagar indenizações ás vítimas, caso se comprove o fato e a omissão. Em casos crônicos, a escola pode encaminhar os alunos para ajuda multiprofissional, tanto para vítima, quanto para o agressor.

Para prevenir essas ações, sugere-se que o professor aborde o tema, desde a educação infantil através de histórias que trabalhem o preconceito, ou qualquer outra forma de exclusão ou discriminação. Nas demais séries pode-se trabalhar com artigos ou pesquisas, além da discussão do ECA, que mostrará aos alunos seus direitos e deveres.

A escola pode criar uma rede antibullying transformando os expectadores, em alunos “solidários”. (FANTE, 2008).

Os expectadores são aqueles alunos que não são nem agressores e nem as vítimas, apenas presenciam os fatos e os malem que fazem. Sugere-se então que eles se unam para ajudar a terminar com o bullying através de estratégias dentro e fora da escola.

Os alunos podem tentar integrar todos na hora do recreio, inclusive os mais isolados, propondo brincadeiras, apresentações teatrais, músicas, alongamentos etc...

Em sala de aula podem ajudar aqueles que têm dificuldade ao invés de rir das agressões dos bully, pois sem expectadores, as popularidades deles diminuem e os ataques passam a não ter mais graça.

Com as vítimas deve-se propor ajuda, estimule-o a falar, e jamais se calar, procurando sempre falar aos pais, professores ou diretor, para que eles possam tomar a atitude adequada.

Quanto aos pais pede-se que estejam sempre atentos aos hábitos, rotinas e atitudes dos filhos, para verificar, caso haja qualquer mudança.

O diálogo deve ser sempre aberto e jamais se deve criticar ou duvidar daquilo que a criança relata, pois o que ela mais procura é segurança para falar de seu sofrimento. Caso ela não queira falar pode-se procurar a escola, ou até um psicólogo, caso seja necessário.

Cada um apresenta suas dificuldades e habilidades, alguns procuram psicólogos, outros conseguem superar seus traumas sozinhos e outros acabam carregando consigo todos os traumas da vitimização.

As crianças que continuam traumatizadas tornam-se muitas vezes adultos inseguros, tensos, deprimidos e agressivos, reproduzindo o que sofreram em suas situações de vida, e outros, ainda desenvolvem transtornos psicológicos relacionados ao estresse sofrido na infância.

Para que isso não ocorra, à cultura da paz é a melhor saída, pois as escolas possuem os melhores meios de reduzir o bullying.

[...] os profissionais que atuam junto aos alunos, especialmente os professores, devem disseminar nos corações dos educandos as sementes da paz: a solidariedade, a tolerância, o respeito ás diferenças, a justiça, a cooperação, a amizade e o amor. Com isso, as crianças aprendem a respeitar e a valorizar as diferenças individuais, resolver os seus conflitos e conviver em harmonia (FANTE,2008, p. 129).

As crianças são capazes de multiplicar uma ideia e repassá-la aos demais, mas para isso é preciso que todos ajudem. Os professores podem iniciar, mas cabe a todos da comunidade a continuação do processo, para que todos se sintam incluídos, não havendo mais nenhuma forma de discriminação.

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